domingo, 1 de abril de 2012

O gênero de 'Khármides' II

Bem, acabei de finalizar o primeiro capítulo, com uma reflexão sobre a morte. Transcrevo um trecho em que penso em algo a partir de Machado de Assis e espero que lhes agrade:
"Assim como as memórias do protagonista transformam sua morte em vida, não seria abusivo classificar Brás Cubas como verme. Um verme não se rói a si, mas roeria um outro verme? O que Brás Cubas faz é roer-se como algo exterior a si, com a liberdade e o distanciamento crítico que pareceu impossível enquanto o sujeito era vivo. O argumento parece não oferecer obstáculos. Engano. As memórias, tal como um diário, assim como a digestão normal serve para conservar a vida daquele que consome, o máximo de tempo, servem para conservar a mente. As idéias frescas lhe róem a alma como os vermes lhe róem a carne. A reflexão está diante de algo vivo, o reconhece como vivo, está viva nessa relação; mas não pode deixar de ter, nesse caso, o aroma da morte.
Para nossa decepção, porém, descobrimos no ponto de junção do duplo – cadáver-escritor e bon vivant-dandy – aonde chegamos por último, que não há redenção para a vida de Brás Cubas"


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