sábado, 18 de maio de 2013

Escrevendo um romance: Mensagens do tempo




Há algum tempo pensei em relatar, para mim mesmo pelo menos, métodos que estão dando certo para a execução de um projeto de romance que concebi há uns oito anos - as mensagens do tempo. Trata-se de um romance que aborda a construção de uma máquina do tempo na cidade de São Paulo.
Em primeiro lugar, escrever diariamente é sem dúvida algo que me auxilia a não esquecer o fio da história e decisões recentes que tomo sobre a prosa. Os personagens crescem pouco a pouco e suas personalidades precisam de labor diário, uma pequena dedicação às suas angústias, medos, coragens torna o resultado mais verossímil. Acredito.
Como este livro conta a história de um personagem que inventa uma máquina do tempo, tive várias versões para como executar esse plano e dar ao leitor a noção de deslocamento, deslugarmento, qual palavra exprimiria essa ideia de estar onde sempre se esteve sem reconhecer seu próprio lugar? Pois bem, a máquina é inerte, bem entendido. Ela não seria uma nave, um avião, ela seria um estilingue arremessando bumerangues no tempo, objetos que retornam exatamente o lugar de origem, mas em tempo diferente. Essa ideia do bumerangue é interessante, porque deixa claro que a viagem no tempo que proponho não pode resolver os dois problemas simultaneamente: não deixa o transeunte escolher onde quer chegar e quando. Somente quando e ainda com certas limitações que o romance tenta apresentar.
Aproveitei-me da inverossimilhança da própria ideia de uma máquina do tempo para deslugar meu leitor em relação à própria inverossimilhança do romance. O leitor parece observado o tempo todo. Desejo fingir um diálogo que está para sempre protelado, postergado. Imagino as respostas que daria ao narrador do livro e o faço duvidar dessa narração imparcial. O narrador é um personagem inverossímil, veículo da prosa, que nos leva do começo ao fim do objeto-livro, ainda que a página-começo não sconte algo anterioro à página-fim. Existe algo de irreal nessa seqüência; de irreal e implacável. Por mais que haja Rayuelas e Museos de la Novela de la Eterna, e que o leitor independente e inteligente possa finalmente resistir à leitura seguida, um livro é apenas um pergaminho cortado de maneira regular e encartado entre duas capas. Um livro não é um mapa, não passamos de um continente ao outro com navios em um livro, sem percorrer cada istmo, ilha, etapa, forte, delta, polyfemo, tártaro, elýseo. Pois como representar uma máquina que atravessa eras sem um mapa muito preciso do tempo? Eu posso tentar abrir essa picada, como um bandeirante literário, criminoso, leviano e desumano. Mostrar que chegamos a eras distintas e delas vamos roubando a essência daquela máquina, por via das dúvidas, caso nosso protagonista não consiga inventá-la:
"Es indudable que las cosas no comienzan cuando se las inventa. O el mundo fue inventado antiguo" (Museo de la Novela, Edição Allca XX/Scipione, p. 8)
"pues para algo se apura el demorado; para llegar adonde no sea tarde" (idem, p. 16)

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