domingo, 1 de setembro de 2013

Aforismo sobre emoção



A emoção imita a doença em todos os seus aspectos: primeiro, implica a totalidade real do sujeito; segundo, evidencia a interdependência do sujeito e do contexto; terceiro, oferece um recorte para compreender a sensibilidade; quarto, permite observar a atitude do sujeito.

A doença que imita uma emoção é uma emoção; e o psiquismo humano, por sua vez, é o resultado da emulação e cooperação entre emoção e emoção, de modo que a própria definição de "doença" corre o risco de ser somente uma noção em permanente fuga.

Nesse sentido é interessante notar que a palavra utilizada por Aristóteles para indicar esse conjunto seja "pathos"; significante aparentemente sem origem indo-europeia, possui entre seus cognatos palavras de viés negativo, aqui compreendendo "negativo" como quase rigorosamente sempre palavras que indicam o aspecto passivo e sofrente do sujeito. Diferente de Platão, que utilizou mais sistematicamente uma divisão entre prazeres e dores, passados e futuros, para indicar essa classe de eventos anímicos que imita a doença e com ela compete em última instância; Aristóteles busca palavra préexistente e lhe significado alargado; ali se inclui - conforme as obras éticas - o terceiro e o quarto ponto que levantei acima.

A emoção, nesse sentido, não é algo bom; ela é adaptativa. Os estóicos indicavam emoções boas ajuntando o prefixo "eu" à palavra "pathos" na forma abstrativada "patheia": "eupatheia".

O verbete "pathos" do livro delta da Metafísica progride da mais nuclear noção de passividade do sujeito à noção de mais extremo sofrimento, o que mostra que Aristóteles era fiel de algum modo à etimologia que a língua grega fundava.

Emoções prazerosas não são boas em si, assim como as dolorosas não são más em si. Basta pensar em uma doença que torne nossa derme mais sensível; isso pode ser um suplício para quem trabalha sob o calor ou frio extremos; por outro lado, isso pode ser milagroso para quem é acariciado.

Elas são governadas por vários eixos, um eixo de maior e menor cognição, interação; um eixo de excitabilidade; um eixo de densidade atitudinal e temporal. É difícil falar em "reação" no que tange à emoção, porque neste caso não é possível falar propriamente em "passividade", logo o ser humano é reagente ao receber um estímulo; e de algum modo é mero instrumento ao reproduzir sua atitude.

Dado traço definicional adaptativo da emoção; doença de que nunca nos livramos, se não para cair em outra nova; equilíbrios estereotipados, implicando sensibilidades e atitudes prérrecortadas; normalidades e enfermidades. Reduzir o ser humano, enquanto está envolvido e comprometido com a realidade, a uma emoção dessas, ou a duas - amor e ódio - é reduzí-lo.

Tamanduateí, 1º de setembro de 459

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