"Assim como as memórias do
protagonista transformam sua morte em vida, não seria abusivo classificar Brás
Cubas como verme. Um verme não se rói a si, mas roeria um outro verme? O que
Brás Cubas faz é roer-se como algo exterior a si, com a liberdade e o
distanciamento crítico que pareceu impossível enquanto o sujeito era vivo. O
argumento parece não oferecer obstáculos. Engano. As memórias, tal como um
diário, assim como a digestão normal serve para conservar a vida daquele que
consome, o máximo de tempo, servem para conservar a mente. As idéias frescas
lhe róem a alma como os vermes lhe róem a carne. A reflexão está diante de algo
vivo, o reconhece como vivo, está viva nessa relação; mas não pode deixar de
ter, nesse caso, o aroma da morte.
Para nossa decepção, porém, descobrimos no ponto de
junção do duplo – cadáver-escritor e bon
vivant-dandy – aonde chegamos por
último, que não há redenção para a vida de Brás Cubas"
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