Conforme o escrevo, tenho a impressão de que o narrador e o leitor - os autóctones do tempo - estão competindo com os personagens para criar algo. Não é possível dar atenção às duas coisas ao mesmo tempo - e isso é uma confissão patética de um autor - e claramente o livro ganha a dianteira enquanto narrativa, ao passo que o enredo se torna dependente do livro.
Por outro lado, nessa competição perdem todos. Tampouco é possível saber se o livro, se o narrador e o leitor - autóctones do tempo - inventaram algo novo. É outra confissão patética de autor. De ambos os pontos de vista, parece que me comprometo com uma ficção científica irrealizável e com um romance metalingüístico que tem pouco interesse para o leitor.
Inovar parecia tão necessário quando comecei a escrever essa ideia, que acabei me inspirando em grandes inovadores para isso. Ocorre que meu ponto de partida é irreplicável: James Joyce, Haroldo de Campos, Paulo Leminski, Ezra Pound, Macedonio Fernandes, Boris Vian e Bioy Casares. Mas se algo deve definir este romance é o desejo de perseverar e de não ser apenas promissor. Como autor, e essa é uma terceira confissão patética, não pretendo parar antes que a obra apresente em todos matizes essa competição entre inovação e reflexão e o fracasso inevitável que essa contenda gera. Ninguém vence numa cidade, num mundo e num ethos em que as atitudes esclarecedoras estão desconectadas.
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